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domingo, 15 de agosto de 2010

A idéia do fim da história contamina processo eleitoral

Falta de imaginação e de propostas sobre questões fundamentais do país; limitação das expectativas, mais do mesmo, nenhuma utopia no horizonte; eis o porque o debate eleitoral até aqui está tão desinteressante. E nada indica que isso mude com o início do horário eleitoral gratuito.

Além da pasteurização determinada pela lógica marqueteira - azeitada pelos milhões que consumirão a maior parte dos bilhões dos orçamentos de campanha - é visível que a candidatura tucana do ex-governador José Serra sofre de um problema insanável: Serra não ocupa lugar nenhum, é um sem-espaço, porque o espaço da social democracia no Brasil foi ocupado por Lula e pelo PT que herdou e ampliou as iniciativas e programas iniciados pelo governo tucano - da política econômica, ao Bolsa Família.

Serra ocupa uma espécie de limbo. Não precisa ser expert, nem o “Paul, o polvo alemão” que acertou todos os palpites na Copa da África, para saber que o resultado das eleições de 03 de outubro já está selado: a ex-ministra Dilma Rousseff, a candidata do Governo, apoiada por Lula do alto da popularidade de quase 80% e ainda com os bons ventos da economia, não tem como perder.

Mas, a falta de perspectiva de Serra é mais profunda: o Governo Lula tomou todas as bandeiras tucanas, ocupou o espaço ideológico da social-democracia. A disputa que se trava, portanto, não opõe projetos distintos para o país, visões diferenciadas de país, de mundo, de vida.

Mesmo Marina, com a ênfase que dá a propostas de desenvolvimento sustentável e ao meio ambiente, é também ela, mais do mesmo. Não propõe rupturas, ao contrário, mas transversalidade entre as duas vertentes principais da social democracia; transversalidade entre tucanos e o petismo, é a síntese de sua proposta.

A redução da política ao pensamento único, nessa coisa inodora, insípida, desinteressante, nesse produto que se compra na padaria da esquina (claro, com direito ao candidato mais embaladinho), é um dos aspectos mais perversos da mediocrização da vida brasileira.

Então, se a disputa se dá entre os mesmos, porque as pessoas haveriam de mudar, se estão satisfeitas com o Governo?

Esmagados pelo peso dos três principais candidatos - todos com discurso retirado do bom mocismo social-democrata - os candidatos nanicos do leque à esquerda - Plínio à frente -, não conseguiram esboçar um mínimo de unidade entre essas forças que os elevasse à condição de alternativas.

Eis, em poucas palavras, o porque o debate eleitoral está tão chato e estas eleições são as mais assépticas, despolitizadas e sem emoção, desde o fim da ditadura. É como se a idéia conservadora do fim da história sugerida por Fukuiama após a queda do Muro de Berlim, tivesse finalmente chegado ao processo eleitoral brasileiro.

Faz falta nos candidatos o confronto de idéias, a aposta em rumos distintos do discurso padrão. Quem assume, por exemplo, idéias arrojadas como uma Reforma Política e do sistema eleitoral, apodrecido, fonte de corrupção e da privatização do Estado, capaz de estimular o surgimento de novas lideranças? Resposta: ninguém.

Quem faz a defesa de propostas como o fim do voto obrigatório, mandatos revogáveis, possibilidade de candidaturas autônomas, voto distrital, financiamento público das campanhas, a única forma capaz de evitar que as eleições se tornem lucrativo investimento de grupos privados de olho no Estado como espaço para expansão de seus rentáveis negócios? Há um silêncio ensurdecedor sobre esses temas, fundamentais para a modernização e o aprofundamento da democracia brasileira.

Falta a defesa dos instrumentos da democracia direta consagrados pela Constituição de 88 - “a Constituição Cidadã”-, como o plebiscito, o referendo, os projetos de iniciativa popular.

Em S. Paulo, o Estado com a economia mais dinâmica do país, por exemplo, plebiscitos e referendos jamais foram convocados para submeter questões de interesse público ao crivo dos cidadãos.

Essas são propostas que, como deputado estadual, levarei para a Assembléia Legislativa e que gostaria de ver sendo debatidas pelos candidatos à Presidência, e que pelo visto não verei, o que não impede que sejam lançadas à discussão nesta campanha eleitoral. É a contribuição modesta que posso oferecer à elevação do nível de consciência política na sociedade.
É para isso também - e principalmente - que servem as campanhas eleitorais, quando baseadas em idéias, em propostas, e não na compra do voto como mercadoria.
 
 

4 comentários:

  1. Dojival,admiro sua visão crítica do mundo. Mas objetivamente, suas idéias coadunam com seu atual partido? As críticas acima cabem para muitos dos membros de seu partido. Se você for eleito, Dom Aldo Rebelo não te enquadrará rapidamente?
    "Descorajoso" Valério.

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  2. Prezado Valério,
    A razão pela qual defendo uma reforma política com as propostas elencadas é que os Partidos estão muito parecidos, quase iguais - da esquerda a direita. Óbvio que há a necessidade urgente de uma reforma política e do sistema partidário - que estão se tornando, todos, espécies de capitanias hereditárias.
    Quanto a "enquadrar", meu caro, nem Dom Aldo, nem quem quer que seja teve ou terá nesta vida o poder de me impedir de pensar e defender as idéias nas quais acredito.
    Forte abraço prá você!

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  3. Apesar das aparências, não quis ser sarcástico com você. Queria, realmente, era exatamente isso, uma resposta com bom nível. Acredito em discussões de idéias para esclarecimento de fatos e pensamentos...
    Valeu.

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  4. Camarada Dojival,
    Continuo acreditando que o fim da historia,metaforicamente continua com a resistencia pela luta de classes, e personalidades publicas como voce traz-nos esperanças no resgate de bandeiras historicas dos trabalhadores, atualmente pisoteadas pelos social-democratas e oligarcas que detem o poder.

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