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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sequestraram a política da campanha política

Terminada a primeira semana do horário eleitoral gratuito, uma coisa fica evidente: seqüestraram a política da campanha política, não há debates, não há idéias em disputa. Não fôsse as vozes dissonantes dos partidos nanicos de uma esquerda que não consegue se fazer ouvir nem por ela própria - chegaríamos a única conclusão possível: há um consenso, e se há consenso prá que disputa, prá que eleição?

Todo mundo diz que vai cuidar disso, vai cuidar daquilo, vai defender a saúde, a segurança; há os que prometem, entre os candidatos a deputado estadual, até mesmo a mudar o itinerário do metrô, levá-lo para Guainazes ou o quinto dos inferno, o que importa?

Ao mesmo tempo proliferam as figuras que estão ali só para provocar risos e ganhar votos na base da velha idéia conservadora de que uma campanha política se torna mais divertida e melhor – pasmem – sem política. Esta é a mais conservadora e regressiva campanha eleitoral, desde o fim da ditadura.

E o que é mais grave: isso está se dando depois de oito anos de governo Lula. Comentava com André, amigo advogado de Vitória com quem almocei, juntamente com sua esposa, a também advogada Elisângela, nesta sexta-feira, no Sujinho, da Consolação: é patético que nos ofereçam como saída: ficar onde estamos – o nada – ou o retrocesso.

Nenhum sinal de futuro no túnel.

Tiririca faz o que sabe: humor de baixo nível, dirigido às camadas mais pobres. “Tiririca, pior do que está não fica”. Alguém tem dúvida que terá milhares de votos, que o conduzirão à Câmara Federal para nos representar? Eu não tenho - está eleito, claro. O mais grave é que os inventores do Tiririca são os políticos malandros – os Valdemares das Costas Netos ( e Largas) - espertos que apostam exatamente na sua capacidade puxar votos pelo deboche para também eles se instalarem.

Os Partidos se consolidam como as novas capitanias hereditárias. Da direita à esquerda, aparecem no horário eleitoral que deveria ser dividido equitativamente por todos, os da preferência dos seus respectivos donos. Quem não tem padrinho – ou não paga – dançou: está fora. O velho clientelismo, o velho coronelismo, o velho compadrismo, o velho sistema de favores, que faz com que estejamos de volta aos tempos do voto censitário.

Para quem não sabe (ou lembra) o voto censitário é a concessão do direito de voto apenas àqueles que atendem a certos critérios que provem condição econômica satisfatória. No Brasil, esse tipo de voto foi estabelecido pela Constituição de 1.824 e abolido pela Constituição de 1.891 com a República, ou seja, esteve em vigor durante todo o período da Monarquia.

A renda exigida para votar era de 100 mil réis. O voto era um ato de obediência. Foi também adotado durante a vigência da Constituição de 1.934 que excluía os mendigos do processo eleitoral.

Hoje temos uma nova modalidade de voto censitário: todos podem votar, mas apenas alguns podem ser votados. O critério é o mesmo: pode ser eleito apenas os que tem dinheiro (a previsão de gasto limite para um candidato a deputado estadual é de R$ 3 milhões). Quem não tem dinheiro nem candidato pode ser, muito menos se eleger.

Foi para denunciar tudo isso que topei fazer parte da lista de candidatos a Deputado Estadual por S. Paulo.

Se você quiser, isso pode mudar: Dojival – Deputado Estadual 65.788

Um comentário:

  1. É, o que vemos é um cenário triste em uma pseudo democracia, que eu aos 28 já não mais acredito.
    beijos

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