Chamado de “O cara” por Obama, ego inflado pela mídia internacional, rodeado cotidianamente por bajuladores e puxa-sacos de todas as espécies e calibres, e criticado apenas por adversários que, com raras exceções, o fazem por preconceito contra pobres e contra quem não teve oportunidades de acesso à Universidade, o presidente Luiz nácio Lula da Silva, dia sim outro também, dedica-se a fazer o que mais gosta: falar à platéias extasiadas.
E falou nestes oito anos como “nunca antes neste país” um presidente da República, se permitiu. Disse coisas assim; sobre Educação:“Educação é condição "sine qua non". Estou falando "sine qua non" porque o Caetano Veloso fala. E se ele fala, o Lula também pode falar”.
Na visita ao Piauí, na última quinta-feira, em campanha pela sua candidata, comparou-se a Jesus Cristo e a Tiradentes. “Se contavam muitas mentiras de mim. Eu tinha barba e por isso eu era comunista. E os mentirosos não tinha (sic) coragem de dizer que Jesus Cristo tinha barba comprida, que Tiradentes tinha barba comprida. Quantas vezes eu tive que explicar porque tinha estrela na bandeira do PT e a quantidade de vezes que eu tinha que responder sobre aborto. Quantas vezes tinha que responder a questões que não diziam respeito a um presidente da República.”
Sobre a preservação do meio ambiente: “Então, essa questão do clima é delicada por quê? Porque o mundo é redondo. Se o mundo fosse quadrado ou retangular, e a gente soubesse que o nosso território está a 14 mil quilômetros de distância dos centros mais poluidores, ótimo, vai ficar só lá. Mas, como o mundo gira, e a gente também passa lá embaixo onde está mais poluído (???) responsabilidade é de todos”.
Sobre o apagão: “Eu já disse várias vezes. Freud dizia que tinha algumas coisas que a humanidade não controlaria. Uma dela era as intempéries”.
Outro dia, do alto de um palanque em Santa Catarina, prometeu extirpar o partido de Oposição – o Democratas - retornando ao histórico de bravatas, em que ele próprio confessou-se “expert” quando na Oposição. O ato “cirúrgico” de Lula é tão impróprio para um chefe de Estado, quanto desnecessário: se a alguém cabe o papel de extirpar um partido de oposição na Democracia, esse alguém é o povo, e no voto, em eleições livres e limpas.
MAU EXEMPLO
O Presidente dá mau exemplo; todos os que o conhecem identificam a declaração apenas como o que ela é: mais uma bravata.
Não satisfeito, às vésperas do 1º turno, transformou a mídia – especialmente os dois jornais paulistas Folha e Estadão - em alvo de declarações, tão furiosas quanto infelizes.
Se o Presidente encarregasse o seu chefe de Comunicação Social, o ex-comentarista da TV Globo, ministro Franklin Martins, de revelar os gastos do Planalto com publicidade, todos veríamos que o seu Governo tem sido extremamente generoso com os grandes meios de comunicação.
Muito provavelmente confundindo os papéis, como frequentemente o faz e esperando gratidão, o Presidente não aceita desses meios o exercício da crítica aos seus arroubos retóricos.
Gostaria que fizessem o mesmo que o bispo Edir Macedo, o chefe da Igreja Universal do Reino de Deus, que divulgou carta de apoio a sua candidata.
Pretende ser, ao mesmo tempo e num tempo só, Governo e líder da Oposição.
BATER EM QUEM DEVE
Macedo, como se sabe, não é o único poderoso que passou a tomar assento à mesa do Presidente. Sarney, Temer, Collor, Renan, Barbalhos, Ciros e Gedéis, também fazem parte da tropa de choque lulista. ACM, se vivo estivesse, provavelmente, nela teria lugar de honra.
Em outra quinta-feira desse mesmo mês de outubro (07/10), Lula voltou a engordar o anedotário com declarações sobre o papel da Polícia do Rio de Janeiro, onde, quase toda semana, alguém morre por bala perdida em tiroteios entre a Polícia e traficantes que dominam a maioria dos morros cariocas.
Na tentativa de agradar o anfitreão, o governador Cabral, teceu loas a política cabralina de um Rio pacificado que só a propaganda vê. “"Estou convidando vocês para subirem a favela de Manguinhos, o Complexo do Alemão, e o Pavão-Pavãozinho para vocês verem o que nós estamos dizendo para aquele povo de lá: não vamos mandar para cá a polícia apenas para bater. A polícia vai ir para lá para bater em quem tiver de bater e proteger quem tiver de proteger". Claro que ninguém aceitou o convite para o "tour". Nem o próprio.
Sobre a sua saída do Governo: “Vou colar a faixa na barriga com cola e vou pegar a bicha e sair correndo."
Outras dezenas de frases poderiam ser incorporadas ao palavrório lulista. Enquanto recita tais mantras, sempre do alto de palanques armados e rodeado por bajuladores de todas as espécies, Lula caminha de um lado para o outro, como se estivesse conduzindo um auditório, ou no papel de um pastor em um púlpito; as frases sempre entrecortadas por doses cavalares de populismo escrachado.
A audiência não se cansa de aplaudir - de forma, quase sempre, histérica - as falas desconexas. Onde há boçalidade e puro exibicionismo falastrão, vê inteligência e genialidade. Protegido pela aura que lhe atribuem, Lula extrapola. Confunde inteligência com esperteza. Perde a noção.
Não se contenta em sair consagrado como o mais popular presidente da História do Brasil, beneficiando-se de uma conjuntura econômica favorável.
O LULA DE ANTES
Todos sabemos, este Lula que preferiu acalmar os mercados com a Carta aos Brasileiros, de 2002; optou por nomear para o Banco Central, o então deputado tucano, Henrique Meirelles, até o hoje o chefe máximo da economia; assumiu todas as políticas sociais do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso – do luz para todos ao Bolsa Escola, o atual Bolsa Família -, simplesmente ampliando-as, não é o mesmo.
Seu Governo e o próprio PT, simplesmente ocuparam o espaço das políticas social-democratas do tucanato, os colchões para aplacar os devastadores efeitos para os mais pobres das políticas neoliberais assumidas sem qualquer cerimônia e recato. Tanto que na disputa, agora travada entre o candidato tucano e a candidata ungida pelo lulo-petismo o distinto público está convidado a escolher “mais do mesmo”.
Na medida em que assumiu o espaço ideológico e político da social democracia, rebaixando os seus horizontes, e transformando o projeto de país, em projeto de poder para a burocracia que o controla, o PT tornou-se mais um Partido das elites brasileiras – com raízes nas classes médias dos grandes centros urbanos e nas camadas mais pobres dos grotões que sobrevivem do que antes o próprio Lula chamava de "bolsa-esmola".
Do partido de esquerda que foi alhures não resta mais nem o vermelho, cor hoje considerada “agressiva” pelos marqueteiros; do manifesto que defendia uma sociedade sem exploradores nem explorados, nem a sombra.
O PT e Lula, ainda mais com a aliança com o PMDB, nestas eleições tornaram-se a expressão de um partido de centro-direita, sem qualquer horizonte mais amplo que não seja a reprodução da ordem/desordem de exploração, à base de um populismo tosco.
Enquanto isso, a Serra e aos tucanos, fica o desafio de se apresentarem com propostas mais à direita do lulo-petismo.
Como já estamos em um Governo de centro direita - e que pretende continuar por mais 4 anos, quem sabe 8 ou oitenta anos - o que nos restaria seria a escolha entre um Governo de centro direita, nascido do que um dia foi a esquerda, ou um Governo de centro direita, nascido do que um dia foi o esboço do projeto da social-democracia brasileira. Ou seja, mais uma vez: "mais do mesmo".
Conheço Lula desde 1.979, tempo em que não havia ainda assumido o seu lugar no panteão dos deuses, quando fundamos o que outrora foi o Partido dos Trabalhadores, e posso afirmar, sem nenhum temor de que os raios do Olimpo caiam sobre a minha cabeça: Lula surtou.
Se surtou ou não , a metamorfose ambulante caudilhesca de Lula ressoa sobre o movimento de massas triturado e isolado pelo Direito positivado.
ResponderExcluirSe a luta de classes é o motor da História, que sigamos a cartilha da concepção construtiva do Direito Alternativo enquanto bandeira de transformação desse Estado Democrático de Direito.
Saudações socialistas e parabéns pelo excelente artigo!
Gilvan Ferraz Ribiro